As relações entre saúde e educação constituem-se em poderoso instrumento na medida em que dinamizam e fortalecem as relações entre alunos, educadores e os seus movimentos organizados.
O termo “cuidado” tem origem no latim = cogitatus. Suas aplicações têm dois sentidos. O primeiro refere-se à ação do pensamento calculado, suposto, meditado. Complementarmente, o segundo concentra-se no campo do espírito, materializado no desvelo, solicitude, vigilância, precaução, dirigidos ao outro.
A palavra “cuidar” tem sido empregada em diferentes e amplos contextos e, mais do que adquirir certa preocupação, representa, fundamentalmente, responsabilização e atenção com o ser cuidado. Adquire ainda mais sentido com a presença das pessoas com especial significado na vida da gente. São práticas que se configuram em atitudes fundamentais à plena sobrevivência da espécie.
Cuidar e educar demandam a criação de vínculos e acolhimento do outro, por meio de atitudes e comportamentos que requerem conhecimentos, habilidades, valores que contribuam para o desenvolvimento dos alunos ao planejar espaços favoráveis que estimulem a inteligência, a imaginação e as descobertas que aguçam a curiosidade.
Em “Saúde se aprende, Educação é que cura” (Editora Antroposófica, 2009), a partir da Pedagogia Waldorf, Elaine Marasca defende a integração entre Educação e Saúde para a busca do equilíbrio das relações humanas seja individual ou socialmente. Nessa abordagem o professor é visto como um médico ao trabalhar com a conscientização e autodesenvolvimento de seus alunos.
Essa Pedagogia é originária da Antroposofia e foi sistematizada por Rudolfo Steiner, na Suíça, no início do século 20. Sua proposta traz uma visão educacional não somente baseada no intelecto, mas fundamentalmente na tentativa de enxergar o ser humano integralmente, com seus pensamentos, sentimentos e querer.
Para Steiner, adoecer é um evento complexo que se dá por meio de múltiplos fatores; significa a quebra da totalidade da interação e a perda do estado natural de equilíbrio do organismo e da mente, com a instalação de uma desordem do sistema orgânico e do meio que nos cerca.
Por sua vez, Paulo Freire entendeu a educação como um mecanismo capaz de perseguir os propósitos do homem, no seu reconhecimento como sujeito, desenvolvendo consciência, criticidade, e constituindo-o em pessoa, para transformar o mundo em comunhão com outros homens numa relação de reciprocidade, produzindo cultura e história (Pedagogia do Oprimido, Cortez, 1974).
O educador é cuidador (cuida-dor). Entende e atua sobre a dor ou a necessidade de seu aluno, adquirindo meios para inclui-lo no seu contexto social, discutir questões e problemas da sua era, através de um ciclo vital de ensino e aprendizado. Portanto, se me perguntarem qual a vantagem da cura pela educação, responderia prontamente que a vantagem é que a educação cura!
Publicado no Jornal Primeira Página, Opinião, São Carlos, 27 de junho de 2013.
Comentários