Há alguns anos encontro-me empenhado em pesquisar sobre a mediação de conflitos e a propor melhores formas de convivência social, junto com outros membros do Grupo de Estudos e Ações para a Paz e não Violência (Geapavi), inconformados que somos com a naturalização da violência, seja nos lares, nas escolas ou nas comunidades.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica seis tipos de violência: negligência/abandono, sevícias físicas (abuso físico), abuso sexual ou psicológico, outras síndromes específicas de maus-tratos, além daquelas não especificadas, tipificação esta ampliada, por alguns autores voltados ao tema, em: violência interfamiliar, moral, patrimonial, institucional, incluindo ainda os casos de bullying – quando a brincadeira fica sem graça!
Em princípio, o comportamento agressivo pode ser entendido como sendo um processo instintivo, próprio dos animais. Diferente disso, a violência é um comportamento aprendido e reforçado, um recurso comumente utilizado nas relações de dominação e poder. Por ser aprendido, esse tipo de comportamento torna-se cíclico e, assim, é perpetuado de geração para geração, até que aconteça uma interrupção no seu padrão de reprodução; por esse motivo, não raramente encontraremos no vitimador também a figura de vitimado na sua história de vida e, inevitavelmente, necessitado de cuidados especializados.
Alguns tipos de violência são muito facilmente identificados e tratados, mas existem muitas outras formas sutis e veladas que provocam efeitos devastadores e, por vezes, irreversíveis. O que mais nos chama a atenção é que muitas vezes o agressor não faz ideia do grande prejuízo que pode causar ao outro, tais como: autoestima rebaixada, frustração, bloqueios emocionais, ou seja, além das lesões e das marcas físicas, ocorre o sofrimento da alma.
Sabemos que um significativo número de casos não é notificado, seja por descrédito dos órgãos competentes, vergonha de se expor ou medo de represálias, apesar das campanhas e boas iniciativas, hoje disponíveis, que se destinam à mudança destas condições. Portanto, ainda se faz necessário – utilizando-se espaços privilegiados tais como escolas, igrejas, associações e a mídia - trazer o assunto para o debate público, de forma a melhor compreender o problema e propor formas de intervenção ou prevenção – mesmo que não se tenha notificações de casos de violência.
Consequentemente estaremos, assim, quebrando o complô do silêncio.Outra sugestão eficaz para se lidar com o assunto é formar ou reforçar a rede de proteção às vitimas ou às pessoas em vulnerabilidade social. Capacitar profissionais para que conheçam a legislação, como a Constituição Federal, o Estatuto da Criança e do Adolescente, a Lei Maria da Penha (11.340, de 2006) e a Lei da Palmada (13.010, de 2014), entre outros documentos, livros e artigos relacionados ao tema.
Enfim, que saibamos fazer encaminhamentos adequados, preservando a privacidade das pessoas e respeitando o tempo de que elas necessitam para elaborar e esquecer os traumas - o que é diferente de negá-los.
Ademais, é essencial propormos um exercício diário de pensarmos modelos de educação e desenvolvimento que primem pelo diálogo, pela tolerância, pelo respeito ao próximo e pelas ações mais pacíficas: desafios para a nossa época.
Jurandir Santos | diretor educacional do Senac São Bernardo do Campo | psicólogo, pós-graduado em E-Business, mestre em educação e doutor em Psicologia da Saúde pela Universidade Metodista | Autor dos livros: Educação profissional & práticas de avaliação (Editora Senac São Paulo, 2010) | Educação: desafios da atualidade (Editora Compacta, 2012) | Criança e adolescente em foco: dialogando com profissionais e cuidadores, Org. (Editora Senac São Paulo, 2014) | Membro fundador do Grupo de Estudos e Ações para a Paz e não Violência - GEAPAVI
www.jurandirsantos.com.br
Publicado em Revista Expressão ABC e Litoral, edição de Agosto/2016, p. 80.
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